terça-feira, 1 de outubro de 2013

O QUE É A TRADIÇÃO CATÓLICA? Trechos da Carta Aberta aos Católicos Perplexos de Mons. Marcel Lefebvre

"De início eu diria ao meu escandalizado leitor que é fácil julgar-se mais católico, mais virtuoso do que Dom Lefebvre, mas que não é tão fácil sê-lo efetivamente."  Gustavo Corção

Monsenhor Marcel Lefebvre
"Mas o que é a Tradição? Parece-me que, com freqüência, a palavra é imperfeitamente compreendida: comparam-na às tradições como existem nas profissões, nas famílias, na vida civil: o buquê fixado sobre a cumieira da casa quando se coloca a última telha, o cordão que se corta para inaugurar um monumento, etc. Não é disto que eu falo; a tradição, não são os costumes legados pelo passado e conservados por fidelidade a este, mesmo na ausência de razões claras. A tradição se define como o depósito da fé transmitido pelo magistério de século em século. Este depósito é aquele que nos deu a Revelação, isto é, a palavra de Deus confiada aos Apóstolos e cuja transmissão é assegurada por seus sucessores.

Ora atualmente, se quer pôr todo o mundo em pesquisa “como se o Credo não nos tivesse sido dado, como se Nosso Senhor não tivesse vindo trazer a Verdade, uma vez por todas. Que se pretende encontrar com toda esta pesquisa? Os católicos a quem se quer impor ”reconsiderações”, após se lhes ter feito “esvaziar suas certezas”, devem lembrar-se do seguinte: o depósito da Revelação terminou no dia da morte do último Apóstolo. Acabou, não se pode mais nele tocar até a consumação dos séculos. A Revelação é irreformável. O Concílio I do Vaticano relembrou-o explicitamente: “a doutrina de fé que Deus revelou não foi proposta às inteligências como uma invenção filosófica que elas tivessem que aperfeiçoar, mas foi confiada como um depósito divino à Esposa de Jesus Cristo (Igreja) para ser por Ela fielmente conservada e infalivelmente interpretada.

Mas, dir-se-á, o dogma que fez Maria a mãe de Deus não remonta senão ao ano de 431, o da transubstanciação a 1215, a infalibilidade pontifícia a 1870 e assim por diante. Não houve aí uma evolução? De modo nenhum. Os dogmas definidos no curso das idades estavam contidos na Revelação, a Igreja simplesmente os explicitou. Quando o papa Pio XII definiu, em 1950, o dogma da Assunção, ele disse precisamente que esta verdade da translação ao céu da Virgem Maria com seu corpo se encontrava no depósito da Revelação, que ela existia já nos textos que nos foram revelados antes da morte do último Apóstolo. Não se pode trazer nada de novo neste domínio, não se pode acrescentar um só dogma, mas exprimir os que existem duma maneira sempre mais clara, mais bela e mais grandiosa.

Isto é tão certo que constitui a regra a seguir para julgar os erros que se nos propõem quotidianamente e para rejeitá-los sem nenhuma concessão. Bossuet o escreveu com energia: “Quando se trata de explicar os princípios da moral cristã e os dogmas essenciais da Igreja, tudo o que não aparece na tradição de todos os séculos e especialmente na Antigüidade, é por isso mesmo não somente suspeito mas mau e condenável; e é o principal fundamento sobre o qual todos os santos Padres (da Igreja) e os papas mais que os outros, condenaram falsas doutrinas, não havendo nada de mais odioso à Igreja romana que as novidades.

O argumento que se faz valer aos fiéis aterrorizados é este: “Vós vos agarrais ao passado, sois passadistas, vivei com vosso tempo!” Alguns desconcertados, não sabem o que responder; ora, a réplica é fácil; aqui não há nem passado nem presente, nem futuro, a Verdade é de todos os tempos, ela é eterna." Monsenhor Marcel Lefebvre - Carta Aberta aos Católicos Perplexos

Nenhum comentário:

Postar um comentário